Não sou muito de escrever textos com minha opinião, mas acho o assunto tão polêmico e tenho lido tantas bobagens que resolvi me manifestar...
Rodou na internet neste final de semana e já foi reportagem até nos telejornais da Globo a polêmica prova de filosofia aplicada pelo professor Antônio Kubitschek em Brasília. Nela, continha a seguinte questão:
A maioria da pessoas saiu criticando o professor, dizendo que era um absurdo, um disparate. E muita gente 'especialista' e 'cheia de títulos' também fez duras críticas. Até aí, nada de mais, cada um fala o que bem entende (e é até por isso que estou escrevendo minha modesta opinião). Mas uma reportagem da rádio CBN me chamou especial atenção.
Nela, o professor da UNB e especialista em Políticas de Educação, o senhor Célio Cunha disse que
“a introdução do ensino da filosofia foi no sentido de proporcionar aos alunos um tempo dedicado à sociedade contemporânea e aos problemas que nos atingem. Acredito que a prova de filosofia, como foi elaborada, não foi o melhor caminho para alcançar esse objetivo. A escola é uma instituição que deve abordar conteúdos de alto nível e episódios como esse não acrescentam à educação brasileira”.Este senhor, o qual desconheço (infelizmente, pois adoraria discutir sobre o tema tomando um café...), já foi coordenador e assessor da UNESCO para educação no Brasil, o que, com certeza, o faz entendido no assunto. Mas a pergunta que não quer calar é: entendido até que ponto?
Sou licenciada em Biologia e eternamente grata aos professores pela carga incrível de conhecimento TEÓRICO. Cada aula, cada discussão foi, de fato, essencial e imprescindível na minha formação. MAS (sim, existe um 'mas'), só aprendi a dar aulas quando fui parar na sala de aula.
E ah... Porque tenho mais um 'mas'...Sala de aula de faculdade é diferente de cursinho, que é diferente de ensino fundamental, que é diferente de ensino médio.
Com experiências nestas quatro vertentes, afirmo com certeza absoluta: NADA MAIS DIFÍCIL DO QUE PRENDER A ATENÇÃO DE ADOLESCENTES DO ENSINO MÉDIO.
Nessa idade, tudo é mais interessante que a aula. Tem o celular, o cabelo, a saída do final de semana, as primeiras experiências. Tudo isso é mais sensacional do que a aula de Biologia.
Se falar sobre um assunto tão natural e que desperta tanta curiosidade quanto o corpo humano parece tarefa quase impossível, imaginem discutir filosofia com essa moçada?!
Tentando me colocar no lugar do senhor Célio, fui xeretar seu currículo Lattes. O cara é simplesmente PHODA nos assuntos sobre educação. E tenho certeza que suas aulas NA FACULDADE devem ser de altíssima qualidade. PORÉM (sim, olha o 'mas' aqui de novo), no currículo deste senhor não consta nenhum histórico de docência em ensino médio e fundamental, muito menos em escolas públicas (exceto a UNB).
Aí, você está se perguntando: mas, Dani, pra que toda esta investigação? O cara não é safo no assunto?
É, gente, o cara é safo na teoria, mas CADÊ A PRÁTICA?
E a mesma pergunta vale pra todos aqueles que massacraram a didática do meu colega Antônio: QUANTOS DE VOCÊS JÁ ENCARAM UMA SALA DE AULA, ABARROTADA DE ADOLESCENTES, E TENTOU ENSINAR ALGUMA COISA?
Os risos, os bocejos, o olhar distante, o desinteresse e aquela cara de 'isso não me serve pra nada' são DESANIMADORES para a maioria. Porém, para o Antônio isso foi desafiador!
A partir do momento em que ele contextualizou e intertextualizou sua prova (ambas ações descritas como fundamentais nos PCN), os alunos se focaram. Sim, se focaram. E questionaram...
Aquela frase, aquela citação, e justo daquela pensadora contemporânea foi um tapa na cara dos alunos que viram que a filosofia está por aqui.
Sim, aqui, neste texto, no modo de preparo do miojo e até mesmo na música da Valesca Popozuda. Porque a partir do momento em que paramos, pensamos, analisamos e discutimos alguma coisa, geramos conhecimento, saber. Utilizamos de argumentos racionais para pensar e refletir sobre opiniões e atos da nossa vida. E isso nos torna, fundamentalmente, cidadãos críticos.
Talvez se a música em questão fosse do Chico, do Caetano, da Gal ou do Tom, ninguém estaria dando a mínima. Mas falou que é funk, vem aí o preconceito junto.
As letras podem ser ruins, sem conteúdo e você não carrega essas músicas no mp3 do seu carro.
Mas (olha o 'mas' aí de novo)...
Pensem comigo: o grande pensador não é aquele que toca as massas? E as massas estão por aí cantarolando o Caê ou rebolando ao som da musa da Gaiola das Popozudas?? As massas assoviam os acordes de Tom e Vinícios ou posam em selfies dando ósculos na região da articulação glenoumeral?? Pensando por este lado, a funkeira está com valor de mercado muito maior, girando a economia, com a procura maior que a oferta e muitos outro jargões filosófico-político-social-econômicos.
E admitam que aquela é a única questão da prova que a maioria dos que acharam um absurdo tal loucura, acertariam.
Somos livres e todos tem direito a dar uma opinião. Mas não sem antes pensar, propor argumentos e ideias críticas.
Está na hora de escalarmos o muro e sairmos pela fresta da caverna escura (aquela do Platão, se lembra?!), nos libertarmos de falsas crenças e preconceitos e abrirmos um leque de possibilidades.
E, convenhamos, muita inocência acreditar que não havia ironia naquela questão (porque quando os filósofos 'de verdade' foram irônicos, saíram do lugar comum e propuseram suas ideias brilhantes). Para os bobinhos que não conseguiram entender o sarcasmo da prova, fica o pensamento de outro grande filósofo moderno, Compadre Washington: "Não sabe de nada, inocente"!
Passou da hora de entendermos que conhecimento é infinito, que senso crítico é necessário e a educação no Brasil precisa de muitos Antônios, que ajudam na formação de cidadãos críticos. Sim, cidadãos, porque Antônio não colocou somente os alunos do Centro de Ensino Médio 03 para pensar. Ele colocou metade do país pra exercitar seu lado filosófico e cobrar uma nova postura da família, dos alunos e, principalmente, do nosso governo, com relação ao ensino no Brasil.
PS: Tive um leve recalque da esperteza de Antônio ao elaborar esta prova. Talvez se tivesse colocado meus alunos pra ouvir alguma música do Mr. Catra e discutido todas possibilidades de infecções e doenças sexualmente transmissíveis nas aulas de Educação Sexual, teria tido muito mais sucesso no uso da camisinha. E, consequentemente, menos alunos virando pais ao final do ano.
E vocês? O que acham disso tudo?
Beijo Beijo Beijo
DANI
Foi bem isso mesmo > http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/eu-estudante/ensino_educacaobasica/2014/04/08/ensino_educacaobasica_interna,421964/objetivo-da-questao-sobre-valesca-popozuda-era-gerar-polemica-diz-docente.shtml
ResponderExcluirA educação tem que ser levada a sério.
ResponderExcluirAi Dani, eu ainda não consigo concordar com essa questão na prova.
ResponderExcluirAchei muito interessante sua opinião e válida tbm, já que vc tem mais conhecimento de causa, mas mesmo assim julgo desnecessário e ainda ouso afirmar que se fosse uma prova de concurso eu não acertaria, pq eu realmente desconheço a letra dessa música (exceto o refrão, claro).
Parece mentira ou piada mas foi isso mesmo que aconteceu! Educação tem que ser coisa séria!
ResponderExcluirPois é, eu vi em uma matéria e fiquei boba.. Para mim o professor quis fazer uma brincadeirinha, mas em uma prova que é coisa séria, ficou no mínimo estranho.
ResponderExcluirDani, eu entendo que prender a atenção de adolescente é muito complicado (difícil mesmo), mas não consigo concordar com essa questão.
ResponderExcluirBjs!
Acho que se foi a intenção dele fazer uma brincadeira, beleza. Se foi usar a questão para fazer alguém pensar um pouco, tudo certo. Mas ficou como se fosse só pra completar a letra da música mesmo, e aí não faz sentido nenhum.
ResponderExcluirEu acho que foi desnecessário ele colocar essa pergunta na prova.
ResponderExcluirTemos tanta coisa para aprender e ensinar aos alunos, que não precisava!
Isso deu o que falar, passou no jornal, em programa na tv.
ResponderExcluirEu achei desnecessário esse tipo de pergunta.
Afinal educação e coisa séria.